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Mostrando postagens de 2018

Olhar nos Olhos

Acho bonito o olhar nos olhos Quando os olhos não se desgrudam Há algo assim que meio que amarra Mesmo invisível Há uma coisa assim que meio que prende Mesmo incompreensível Acho bonito o olhar nos olhos Quando os olhos ignoram todo o resto Afinal todo o resto é pouco Acho bonito o olhar nos olhos Os olhos fechados contemplam o sonho Os olhos mirando outros olhos Se transformam no próprio sonho Acho bonito o olhar nos olhos Antes do sexo, o beijo Antes do beijo, o olhar O olhar nos olhos, portanto É o primeiro entrar no outro O olhar nos olhos É o primeiro gesto de amar.

Sobre Copa do Mundo e Prêmio Nobel

Provavelmente você recebeu um dos memes do momento, que diz: “A seleção do Canadá não conseguiu se classificar para a Copa do Mundo. (Os canadenses) Terão que se contentar com seus vinte e três prêmios Nobel e em ter um dos níveis mais elevados de qualidade de vida. Coitados... Devem estar com inveja de nós, brasileiros!”. Não é preciso explicar que trata-se de ironia e que a mensagem transmitida é a de que futebol é algo menor quando comparado ao prêmio Nobel e a questões sociais como a qualidade de vida, e que o Brasil está tão focado no esporte que deixa essas outras questões de lado. Perdão pelo termo, mas trata-se de uma descomunal bobagem. O argumento (se é que podemos chamar assim) de quem o criou é totalmente oportunista e desonesto. O Canadá realmente não se classificou para a Copa do Mundo, é verdade. Mas é por não ter tradição nenhuma no futebol. O país participou somente de uma Copa, a de 1986, no México. Jogou três partidas e perdeu as três. Ou seja, desempenho be

Poema - Quero Voltar

Quero voltar ao útero de minha mãe Voltar àquela espera do nascer Porém sem nunca chegar a nascer Àquele viver sem de fato estar vivendo Quero voltar ao útero de minha mãe E lá permanecer todo encolhido em um colo do avesso E infinito Ouvir minha mãe cantarolar Sentir o carinho em sua barriga E permanecer alheio a toda hostilidade Protegido pela carne Quero voltar ao útero de minha mãe Afinal qualquer mundo é pouco Quando se deixa o paraíso Penso agora que O berro ao nascer não é em vão É de desespero por saber Que não podemos desnascer Mas será que é isso mesmo? Será que a morte no fim não nos leva de volta Para o lugar de onde viemos? Pensa como seria bonito se morrer fosse isso: Voltar ao útero de sua mãe Assim a vida faria muito mais sentido E eu não mais temeria a morte.

É Pecado Ainda Gostar de Woody Allen?

Extremistas de plantão e justiceiros sociais em geral hão de erguer seus braços em protestos contra mim. Parentes e amigos hão de me bloquear nas redes sociais. Cogito até que ocorra uma demissão. A minha, no caso. Mesmo assim, assumindo todas essas possíveis consequências, farei a declaração a seguir: - Assistirei ao mais recente filme do Woody Allen. Pronto. Aposto que um basto número de leitores acaba de abandonar o texto para procurar algo mais útil a se fazer, como falar mal de indolentes blogueiros na internet, a começar por este que vos escreve. Mas sim, afirmo estoicamente que assistirei também ao próximo filme que Woody Allen fizer. Além disso, estou cogitando reservar um tempo livre para rever toda a sua filmografia. Se você é um leitor menos radical e decidiu por percorrer seus olhos até essas mal traçadas findarem, explico abaixo minhas razões. Não vou mentir. A polêmica em voga nos últimos dias envolvendo o diretor me afetou. Sempre fui fã de Woody Allen e, quando

O Dia Em Que Topei Com João Gilberto Em Calgary

  Ler em Português        Read in English Dia desses resolvi dar uma volta por alguns lugares que ainda não conhecia em Calgary. Escolhi primeiro caminhar por Inglewood, o bairro mais antigo da cidade. Lá fica a atual Ninth Avenue, que foi por algum tempo a principal avenida daqui. Hoje é uma região cheia de lojas e galerias de arte, artesanato e antiguidades. Além de já ter sido definida como o centro da música local por conta de seus bares e restaurantes e os festivais promovidos ao longo do ano. Em resumo, lugar interessantíssimo para um passeio despretensioso. Então, me fui. Já calcorreando pelas charmosas calçadas do tal bairro, um som familiar me alcançou. Uma música que eu sabia que conhecia, mas levei algum tempo para reconhecer. Mais ou menos como quando você topa com um conhecido na rua e por um segundo não se lembra de onde o conhece. Foi o prazo de entrar a voz de João Gilberto, cobrindo o solo de saxofone: - Um cantinho, um violão... Era Corcovado, clássico